Mergulho

O desafio da folha em branco ainda é maior do que a capacidade de preenche-la com o que vasculho em minhas entranhas. Os versos, palavras que encontro são ainda o que surge fácil, como algas, ou a óbvia fauna que se vê em qualquer mergulho raso.
É preciso ir mais. Há um vulcão encoberto, camuflado por camadas de sedimentos acumulados.
Penso em desistir, mas a vertigem já não deixa. E o fundo, à primeira vista compacto, e estável, vai se revelando poroso, receptivo às minhas investidas.
A água, então límpida, se faz turva, salpicada pela areia que minha agitação espalha. A sensação é de que cavo um abismo, de onde posso nunca mais sair, mas à medida em que nele penetro, torna-se mais e mais atraente, irresistível, inevitável.
E prossigo...

- Cristiano Ottoni de Menezes (inédito/2015)


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