Na noite passada mesmo, tive um. Fui dormir chateado por ter deletado um amigo de velha data. Já fazia tempo que ele postava coisas que me faziam respirar fundo, contar até 10 e, ainda bem, não responder. E assim nossa amizade perdurava. Na verdade, seguia catando cavaco, à beira de abismos.
Até que ontem à noite, dando uma espiada no face, dei de cara com comentário dele que foi a gota d’água. Para não me desgastar dizendo tudo o que achava daquilo, excluí no ato. Simples assim.
Pra quê... Fiquei horas sem conseguir fazer nada. Pegava o livro que estou lendo e era como se estivesse impresso em japonês arcaico. Não entendia uma sílaba sequer, quanto mais qualquer frase...
Liguei a TV mas logo me afastei. No jantar, não consegui conversar direito, nem comer. Quando percebi que poderia criar um mal-estar, fui para o quarto e me recolhi.
Apaguei a luz, mas sem sono rolava na cama. Não pensava em outra coisa:
“O meu velho camarada.... Deletei o meu amigo. ”
Imaginava-o do lado de lá, em algum lugar muito distante, sem conexão comigo. O fim de papo foi retumbante como esse silêncio que agora me tortura. Imagino que a ele também.
Putz.... e eu gostava do cara... Ah, mas fazer o quê? A todo momento parecia que subia numa tribuna. Digitava longos textos com um monte de palavras em caixa alta. Não dialogava, mas destilava certezas, batia martelos... estava muito chato.
O som da televisão na sala foi ficando distante, distante.
Devo ter dormido logo. De madrugada levantei-me para ir ao banheiro. Mesmo zonzo reparei que não estava mais só na cama. Na volta para o quarto, fui até a sala apagar uma luminária esquecida acesa.
Voltei para a cama, deitei e quando me virei de lado buscando me aconchegar, uma louca, desgrenhada, de um pulo pôs-se em pé e jogando os cabelos para frente e para trás gritava histérica:
“Eu quero a cobra! Onde está a cobra?”
Tomado de espanto e terror olhava para os lados à procura de minha mulher e ao mesmo tempo gritava:
“O que é isso! Quem é você sua doida?! Saia daqui! “
E a louca com a blusa aberta, avançava, recuava e tornava a avançar em minha direção. Rodava um chicote sobre a cabeça e gritava sem parar:
“Acabou! Não vou deixar mais essa cobra dominar a minha mente, minha alma! Cadê a cobra?”
Acordei com o abraço de Claudia que ria e tentava me acalmar.
“Calma, calma. Sou eu.... Que sonho foi esse? ”
Entre dormindo e acordado, falei:
“Poxa... como é que essa doida entrou aqui? E onde você ...”
Aliviado entendi tudo. Abraçados, voltamos a dormir. Achei melhor não comentar mais nada...
Direitos Reservados © 2016 Cristiano Ottoni de Menezes
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