Qual é a do peixe...

Caminhava pela areia junto ao mar. Céu azul, sol de meio dia. De repente surgem duas gaivotas em voos sinuosos sobre a multidão que se bronzeava pouco mais afastada das ondas. Continuei a andar com olhar fixo na cena. E então percebi a disputa pelo peixe que uma delas trazia no bico. Em meio às investidas, gingas de escape, o peixe caiu. Acompanhei sua trajetória reta e veloz. Vi quando se estatelou na perna de uma banhista deitada de bruços. Apertei o passo em sua direção e cheguei a ouvir o grito de susto da moça que num salto pôs-se em pé. Ainda sem entender o que acontecera, olhava para aquele peixe como que se não acreditasse no que via. 
O que é isto? Quem fez isto? Era o que parecia perguntar, atônita, irritada. Fosse uma bola não deixaria de ser desagradável, ou pelo menos algo mais... factível. Mas um peixe, distante da água, e com aquela força?    
Um menino bem pequeno veio correndo dizer que caíra de um avião.... Seu pai e outros se aproximaram, até que a moça pegou o peixe pela cauda. Olhava para ele, para cima, para os lados, à busca de uma explicação. Então tive a oportunidade de lhe relatar o que vi. Mesmo que perplexa, aos poucos conformava-se. Largou o peixe e apontou-me um vermelhão na perna atingida. Era como se tivesse levado uma chibatada. 
Na areia o peixe já parecia virado na farinha. Peguei-o, vi que media uns 40 cm e tinha na barriga um pequeno sangramento pelo corte do bico da gaivota. Pelo peso e a marca na perna da moça, pude imaginar a pancada.  Mostrei-o ao menino e mais uma vez expliquei o que se passou. Não caiu de um avião, mas de uma gaivota como as que nos sobrevoavam. Convidei-o a ir até a beira d’água para devolvê-lo ao mar. Quem sabe, sobreviveria.... Não precisei falar outra vez. Entreguei o peixe ao pequeno que sentiu-lhe o peso e o jogou n’água. Não foi longe e logo voltou aos nossos pés. Segurei-o novamente e, conforme os apelos do menino, atirei-o “lá no fundo”. Despedi-me do garoto, de seu pai, fiz um aceno para a moça “premiada” e retomei a caminhada.
Como de costume fui até o Forte Copacabana, onde faço a meia volta. Ao passar novamente pelo “ponto do peixe”, vi-o inerte, na água rasa, no leva e traz das ondas, já desprezado pelas gaivotas. Levantei a cabeça e me deparei com a moça. Diminuí a passada e perguntei se estava bem. Ela respondeu que sim, mas ainda impressionada comentou: 
“Poxa... que azar o meu!” 
Sem parar respondi:
“O que isso! Azar tiveram o peixe e a gaivota. Com tanta inhaca no ar, até que você teve sorte...

- Cristiano Ottoni de Menezes (inédito/2015)


Direitos Reservados © 2016 Cristiano Ottoni de Menezes

Nenhum comentário:

Postar um comentário